Os desafios e os níveis de incerteza da conjuntura internacional têm escalado nos anos mais recentes. Depois da pandemia de covid-19 em 2020, com efeitos desfasados que ainda se fazem sentir, veio a guerra na Ucrânia em fevereiro de 2022, e ainda sem um desfecho à vista, e já no 4º trimestre de 2023, eclodiu a guerra entre Israel e o Hamas, com consequências imprevisíveis.

A Guerra entre Israel e o Hamas e o seu impacto no mar vermelho está a criar novamente uma pressão nas cadeias de abastecimento, nomeadamente pelo aumento dos preços do transporte marítimo, com impacto nos custos das empresas cabo-verdianas e impacto nos preços.

À instabilidade geopolítica acresce o agravamento da emergência climática, com intensificação de eventos extremos, como por exemplo o recorde mundial de calor no Planeta registado em novembro de 2023, centrando o foco da comunidade internacional nos novos equilíbrios geoestratégicos e na questão do crescimento sustentável.

Neste contexto bastante adverso, o FMI projeta que o ritmo de crescimento económico mundial tenha diminuído em 2023, pelo segundo ano consecutivo, registando 3,0%, face aos 3,5% de 2022 e 6,3% de 2021. Esse crescimento é um dos mais baixos dos últimos anos (entre 2000-2019 a taxa média de crescimento mundial foi de 3,8%) e é explicado, sobretudo pelo abrandamento sincronizado tanto das Economias Avançadas como também das Economias Emergentes e em Desenvolvimento.

Para 2024, a previsão é de manutenção da desaceleração do crescimento económico, passando para 2,9%, em reflexo da persistência de desafios atuais, como a continuidade das políticas de aperto monetário adotadas pelos Bancos Centrais para controlar a inflação e as incertezas associadas às questões geopolíticas em curso e suas repercussões nos mercados financeiros, contribuindo para um ambiente económico mais cauteloso e desafiador.

A nível nacional, o Banco de Cabo Verde prevê uma desaceleração significativa do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2023, com o PIB a crescer 4,5%, após uma expansão muito relevante, verificada em 2022 (17,1%), refletindo efeitos negativos da inflação no consumo privado e na contenção da procura externa. Para 2024 a expetativa é de ligeira recuperação ou estabilização do ritmo de crescimento do Produto Interno Bruto, com o BCV a apontar para um crescimento de 4,7% e o FMI para 4,5%.

Apesar do contexto desfavorável, os indicadores de atividade do BCA continuam a evidenciar um reforço gradual e consistente da solidez da instituição. 

Os Resultados Líquidos registaram um crescimento expressivo de 7,3%, relativamente ao ano de 2022, tendo atingido um novo máximo histórico de 1.929 mil contos.

O Produto Bancário cresceu 2,3%, quase 90 mil contos, muito influenciado pelo bom desempenho da Margem Financeira, que cresceu 8,7%, quase mais 260 mil contos, relativamente a 2022. Esta componente do produto bancário, beneficiou do contexto favorável de taxas de juro mais elevadas nos mercados internacionais e também no mercado interno, em menor escala, decorrente dos proveitos obtidos com as aplicações em OIC no exterior e no BCV.

Num contexto ainda marcado pelos efeitos das pressões inflacionistas, os Custos Operacionais aumentaram 8%, atingindo o valor de cerca de 155 mil contos, anulando o impacto do crescimento do Produto Bancário nos Resultados de Exploração e provocando um ligeiro agravamento do rácio de eficiência, Cost-to-income, de 49,4% para 52,2%.

A evolução positiva dos Resultados Líquidos beneficiou também de desagravamento no registo de Imparidades, principalmente imparidades de crédito e de ativos não correntes detidos para venda, depois do reforço substancial efetuado em 2022, por razões prudenciais.

A carteira de Crédito Normal cresceu 4,5%, cerca de 1.554 mil contos, com destaque para os segmentos de empresas privadas e particulares, o que representou o maior crescimento da carteira de crédito normal registado nos últimos 10 anos.

O Crédito Vencido evidenciou um decréscimo muito significativo, de quase 18%, resultado da resolução de alguns processos mais antigos e reestruturações em operações NPL relevantes, tendo o rácio de crédito vencido passado de 7,7% em 2022 para 6,2% em 2023. 

Os Depósitos de clientes aumentaram em cerca de 1.123 mil contos (+1,4%) denotando um abrandamento do ritmo de crescimento comparativamente a 2022, mas continuando a contribuir para reforçar a situação de liquidez bastante favorável do BCA.

O rácio de rentabilidade dos Capitais Próprios (ROE) manteve-se elevado, registando 18,5% em 2023, ligeiro crescimento de 0,2 pp. Os Capitais Próprios do BCA situaram-se em cerca de 10,4 milhões de contos e o rácio de solvabilidade aumentou para 29%, reforçando a robusta situação de solvabilidade não obstante o reforço do rácio de pay-out para 75%.

O bom desempenho do BCA em contexto de crescente complexidade e incerteza, está alicerçado na implementação das iniciativas que visam materializar a sua estratégia, orientada pelos pilares da qualidade de serviço e extração de valor da base de clientes, eficiência operacional e rentabilidade e desenvolvimento do capital Humano, aos quais, em 2023, foi adicionado um quarto pilar focado na sustentabilidade (ESG).

O BCA celebrou em 2023 o seu trigésimo aniversário, com o lançamento de duas novas plataformas de banca digital, BCA Direto e APP para mobile, mais moderna e melhor preparada para acomodar os novos desenvolvimentos que pretendemos implementar numa lógica de conveniência e rapidez na interação com os nossos clientes.

Face ao exposto, podemos afirmar que o ano de 2023 voltou a ser um ano muito positivo para o BCA. Para isso, foi fundamental a colaboração e contributo de todos os nossos stakeholders, nomeadamente os nossos Colaboradores que, num contexto de elevada exigência e crescente complexidade souberam corresponder com dedicação, profissionalismo e elevado sentido de responsabilidade aos desafios que tiveram que enfrentar. Por isso, uma palavra de agradecimento a todos e a todas que fazem parte da equipa BCA. 

Gostaríamos de agradecer também aos nossos fornecedores pela sua parceria e esforço crescente na adaptação a novas exigências, que nos ajudam a melhor responder às necessidades e expetativas dos nossos clientes.

Aos nossos clientes deixamos uma palavra de agradecimento pela confiança depositada e a garantia de que estamos motivados para continuar a trabalhar para corresponder às suas necessidades e criar soluções que ajudem a resolver os seus problemas e continuarmos a ser o Banco de referência no apoio à economia Cabo Verdiana.

Às entidades oficiais e de supervisão, nomeadamente Governo de Cabo Verde, BCV/AGMVM, Bolsa de Valores de Cabo Verde, Câmaras Municipais agradecemos a forma transparente e colaborativa como sempre se relacionaram com o BCA.

Ao acionista Caixa Geral de Depósitos deixamos ainda o reconhecimento da importância do apoio especializado que nos disponibiliza e todos os nossos acionistas deixamos o agradecimento pela confiança e pela permanente colaboração, fatores que muito contribuem para os resultados obtidos e para a consolidação de uma marca de referência em Cabo Verde. 

 

Francisco Santos Silva                                                             Manuela Ferreira

Presidente da CE                                                                      Presidente do CA